28 de abril de 2016

[Lançamento] - Companhia das Letras - Abril/2016

Yeonmi Park não sonhava com a liberdade quando fugiu da Coreia do Norte. Ela nem sequer conhecia o significado dessa palavra. Tudo o que sabia era que fugir era a única maneira de sobreviver. Se ela e sua família ficassem na terra natal, todos morreriam - de fome, adoentados ou mesmo executados. Park cresceu achando normal que seus vizinhos desaparecessem de repente. Acostumou-se a ingerir plantas selvagens na falta de comida. Acreditava que o líder de seu país era capaz de ler seus pensamentos. Aos treze anos, quando a fome e a prisão do pai tornaram a vida impossível, Yeonmi deixou a Coreia da Norte. Era o começo de um périplo que a levaria pelo submundo chinês de traficantes e contrabandistas de pessoas, a uma travessia pela China através do deserto de Gobi até Mongólia, à entrada na Coreia do Sul e, enfim, à liberdade. Neste livro, Yeonmi conta essa história impressionante pela primeira vez. Uma história repleta de coragem, dignidade - e até humor. Para poder viver é um testamento da perseverança do espírito humano. Até que ponto estamos dispostos a sofrer em nome da liberdade? Poucas vezes a resposta foi dada de modo tão eloquente.

No início do século XVIII, Susan Barton se vê à deriva após o navio em que viajava ser palco de um motim de marinheiros. Ao desembarcar em uma ilha deserta, encontra abrigo ao lado de seus únicos habitantes: um homem chamado Cruso e seu escravo Sexta-feira. Cruso é um sujeito irascível, preguiçoso e autoritário: perdeu interesse em fugir da ilha ou mesmo em rememorar os eventos que marcaram sua chegada àquele lugar. Sexta-feira, por sua vez, não pode falar: teve a língua cortada, não se sabe se por proprietários de escravos ou pelo próprio Cruso. Depois de um ano, eles são resgatados por um navio que rumava para a Inglaterra, mas apenas Susan e Sexta feira sobrevivem à viagem a Bristol. Determinada a contar sua história, ela busca um famoso escritor de seu tempo, Daniel Foe, na esperança de que ele escreva um livro sobre sua experiência na ilha. Mas com a morte de Cruso e a incapacidade de articulação de Sexta-feira, a tarefa se mostra mais difícil do que pensava. Vaidoso, Foe insiste em adaptar a narrativa a seus caprichos. Susan, por sua vez, tem de convencê-lo de que sua versão é melhor e luta para manter viva a memória de um passado do qual permanece como única testemunha - ou ao menos a única capaz de transformar aquela experiência em linguagem. Traiçoeiro, elegante e inesperadamente lírico, Foe é uma das obras de construção mais complexa na carreira de um mestre absoluto da literatura.

Rio de Janeiro, anos 1940. Guida Gusmão desaparece da casa dos pais sem deixar notícias, enquanto sua irmã Eurídice se torna uma dona de casa exemplar. Mas nenhuma das duas parece feliz em suas escolhas. A trajetória das irmãs Gusmão em muito se assemelha com a de inúmeras mulheres nascidas no Rio de Janeiro no começo do século XX e criadas apenas para serem boas esposas. São as nossas mães, avós e bisavós, invisíveis em maior ou menor grau, que não puderam protagonizar a própria vida, mas que agora são as personagens principais do primeiro romance de Martha Batalha.
Enquanto acompanhamos as desventuras de Guida e Eurídice, somos apresentados a uma gama de figuras fascinantes: Zélia, a vizinha fofoqueira, e seu pai Álvaro, às voltas com o mau-olhado de um poderoso feiticeiro; Filomena, ex-prostituta que cuida de crianças; Luiz, um dos primeiros milionários da República; e o solteirão Antônio, dono da papelaria da esquina e apaixonado por Eurídice. Essas múltiplas narrativas envolvem o leitor desde a primeira página, com ritmo e estrutura sólidos. Capaz de falar de temas como violência, marginalização e injustiça com humor, perspicácia e ironia, Marta Batalha é acima de tudo uma excelente contadora de histórias. Uma promessa da nova literatura brasileira que tem como principal compromisso o prazer da leitura.

27 de abril de 2016

[Lançamentos] - Editora Seguinte - Abril/2016

O deserto de Miraji é governado por mortais, mas criaturas míticas rondam as áreas mais selvagens e remotas, e há boatos de que, em algum lugar, os djinnis ainda praticam magia. De toda maneira, para os humanos o deserto é um lugar impiedoso, principalmente se você é pobre, órfão ou mulher. Amani Al’Hiza é as três coisas. Apesar de ser uma atiradora talentosa, dona de uma mira perfeita, ela não consegue escapar da Vila da Poeira, uma cidadezinha isolada que lhe oferece como futuro um casamento forçado e a vida submissa que virá depois dele. Para Amani, ir embora dali é mais do que um desejo — é uma necessidade. Mas ela nunca imaginou que fugiria galopando num cavalo mágico com o exército do sultão na sua cola, nem que um forasteiro misterioso seria responsável por revelar a ela o deserto que ela achava que conhecia e uma força que ela nem imaginava possuir.


A pequena cidade de Jellicoe, na Austrália, vive uma guerra territorial travada entre três grupos: os estudantes do internato, os adolescentes da cidade e os alunos de uma escola militar que acampa na região uma vez por ano. Taylor é líder de um dos dormitórios do internato e foi escolhida para representar seus colegas nessa disputa. Mas a garota não precisa apenas liderar negociações: ela vai ter que enfrentar seu passado misterioso e criar coragem para finalmente tentar compreender por que foi abandonada pela mãe na estrada Jellicoe quando era criança. Hannah, a única adulta em quem Taylor confia e que poderia ajudar, desaparece repentinamente e a pista sobre seu paradeiro é um manuscrito que narra a história de cinco crianças que viveram em Jellicoe dezoito anos atrás


Nos três reinos de Mítica, a magia estava esquecida desde tempos imemoriais. Depois de séculos de uma paz mantida a muito custo, certa agitação começa a emergir. Enquanto os governantes lutam cegamente pelo poder, seus súditos têm suas vidas brutalmente transformadas com a eclosão repentina da guerra. É assim que o destino de quatro jovens - três herdeiros e um rebelde - acabam interligados para sempre. Cleo, Jonas, Lucia e Magnus vão ter de lutar, cada um à sua maneira, em um mundo revirado pela guerra, onde imperam traições inesperadas, assassinatos brutais, alianças secretas e paixões arrebatadoras.



26 de abril de 2016

[Lançamentos] - Suma das Letras - Abril/2016

Pedro Afonso, mais conhecido como RezendeEvil, tem um canal no YouTube onde divide com os amigos sua atividade favorita: criar histórias e mundos diferentes no universo de Minecraft. Só que Pedro descobriu que o mundo que vê da tela do computador é muito mais real do que poderia imaginar! Depois de acordar um dia dentro do jogo e conhecer o próprio avatar, o Rezende virtual, ele agora mal pode esperar pela próxima aventura. Desta vez, porém, ao se ver no mundo quadrado que adora, Pedro não reconhece muita coisa. Onde está? De quem é aquela mansão mal-assombrada que vê à distância? E onde estão seus amigos? É hora de mergulhar em uma nova aventura para salvar o mundo que criou. Mais uma vez, Pedro e Rezende precisam se unir, pois um vilão de olhos brilhantes ameaça a vida de todos, e apenas o Herói Duplo poderá derrotá-lo.


Fredrik Gustavsson nunca considerou a possibilidade de se apaixonar — certamente nenhuma mulher entenderia seu estilo de vida sombrio e sangrento. Até que encontra Seraphina, uma mulher tão perversa e sedenta de sangue quanto ele. Eles passam dois anos juntos, em uma relação obscura e cheia de luxúria. Então Seraphina desaparece. Seis anos depois, Fredrik ainda tenta descobrir onde está a mulher que virou seu mundo de cabeça para baixo. Quando está próximo de descobrir seu paradeiro, ele conhece Cassia, a única pessoa capaz de lhe dar a informação que tanto deseja. Mas Cassia está ferida após escapar de um incêndio, e não se lembra de
nada. Fredrik não tem escolha a não ser manter a mulher por perto, porém, depois de um ano convivendo com seu jeito delicado e piedoso, ele se descobre em uma batalha interna entre o que sente por Seraphina e o que sente por Cassia. Porque ele sabe que, para manter o amor de uma, a outra deve morrer.

19 de abril de 2016

[Resenha] - Samba, de Delphine Coulin


Autor (a): Delphine Coulin
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2015
Nº de páginas: 232
Onde comprar? Amazon / Extra

Depois de uma árdua jornada que começou no Mali, o imigrante africano Samba desceu do ônibus e se viu, enfim, livre pela primeira vez. Olhou em volta e lá estava ele: Paris, França. Ao caminhar pelas construções antigas, estava radiante. Seus pés estavam cansados e seus sapatos cheios de buracos, mas o céu estava claro, as paredes refletiam luz, e tudo parecia brilhar só para ele. Dez anos depois, seu encantamento com a cidade luz só havia aumentado. Mesmo atrás das grades, mesmo algemado, ele ainda amava a França. Só lhe faltava pensar em um jeito de permanecer — e sobreviver — como um clandestino naquele país.

Antes de ler a sinopse deste livro, pensei: "Ah, não.. Nem muito fã deste estilo musical sou, não vou querer ler isso". Porém, quando li a sinopse descobri uma história intrigante, sem saber que sua leitura se tornaria tão intrigante quanto.

Nada de música. Samba, na verdade, é um maliano imigrante em Paris - a cidade do amor. Pelo menos, é assim que a maioria de nós à enxergamos dos filmes hollywoodianos.  Samba via uma Paris promissora, uma cidade perfeita para se ganhar a vida, só que a vida lhe mostraria muitas coisas ao contrário. Após de fazer dez anos que deixou a mãe e as irmãs e viver ilegalmente em Paris, Samba que sempre pagou os impostos e trabalhou, vai confiante verificar se seu pedido de residência francesa foi aprovado, mas logo após enfrentar uma imensa fila, ele ver sua vida virar de cabeça para baixo.

"Samba" que já ganhou adaptação cinematográfica e que aliás teve o poster do filme como a capa do livro aqui no Brasil, retrata uma história de injúria racial e contra imigrantes. Este é um livro que capta a sensibilidade do leitor e mostra o duro descaso de órgãos governamentais com os imigrantes, que estão apenas interessados em encher os cofres com o dinheiro dos turistas que já ouviram falar da bela e romântica Paris.

É um livro que retrata também a história de outras milhares de pessoas, que saem de seu país de origem para tentar uma vida melhor no exterior, pessoas que entram ilegalmente noutro país e precisam estar a todo tempo evitando complexos policiais, guardas ou até mesmo forjar a própria identidade. Samba é uma desconstrução daquela Paris perfeita e acolhedora, que mostra as ruas além da Champ de Mars, - onde se localiza a Torre Eiffel - revelando o lado obscuro e imperfeito da cidade.

Samba é um personagem forte, marcante, sobrevivente das decepções e que mesmo a tantos "foras" que a vida lhe dá, ainda continua tentando. Mas, por outro lado, ele consegue ser muitas vezes inconveniente, fantasioso e egoísta, aceitando apenas a própria opinião e indo por meios pouco convencionais, numa espécie de vale-tudo. Ele é um anti-herói da realidade, um entre tantos que querem apenas vencer na vida e realizarem seus sonhos.

O livro é narrado em primeira pessoa, mas não por Samba e sim por Alice - uma voluntária de uma associação que defende os imigrantes que estão em situações ilegais. Alice é uma mulher tímida e determinada, cansada das politicagens e da pacatez, é ela que nos conta toda a história  de Samba, afim de corroborar ao governo francês que ele merece a cidadania do país.

Delphine Coulin  tem uma escrita confortável, fácil e realista... Mas é uma história que merecia chegar a um ápice, só que a autora mantém ela num nível de condução continuo. Mesmo quando surge um trunfo, ele é lançado sem alardes, sem fazer que os sentimentos do leitor aumente ou se compadeça. E isso acabou deixando o livro morno e a leitura das últimas páginas um pouco cansativas.

Todavia, Coulin é autora de uma obra-prima, do retrato dos excluídos, daquelas pessoas que cuidam da cidade, que as mantém funcionando e recebem em troca olhares tortos, como se fossem ratos que ocupam as latas de lixo. Samba é uma tapa na cara da sociedade, um livro sobre problemas sociais, amizade e aventura.

A Companhia das Letras fez um ótimo trabalho de revisão, não me deparei com nenhum erro, seja de ortografia ou digitação. A diagramação também ficou aprazível, letras em bom tamanho com as páginas amareladas.

É um livro que eu indico a qualquer um, pois tem a humanidade em sua essência. 

8 de abril de 2016

[Resenha] - A Sereia, de Kiera Cass

Autor(a): Kiera Cass
Ano: 2016
Editora: Seguinte
Nº de Páginas: 328
Onde Comprar? Extra / Submarino

Anos atrás, Kahlen foi salva de um naufrágio pela própria Água. Para pagar sua dívida, a garota se tornou uma sereia e, durante cem anos, precisa usar sua voz para atrair as pessoas para se afogarem no mar. Kahlen está decidida a cumprir sua sentença à risca, até que ela conhece Akinli. Lindo, carinhoso e gentil, o garoto é tudo o que Kahlen sempre sonhou. Apesar de não poderem conversar pois a voz da sereia é fatal , logo surge uma conexão intensa entre os dois. É contra as regras se apaixonar por um humano, e se a Água descobrir, Kahlen será obrigada a abandonar Akinli para sempre. Mas pela primeira vez em muitos anos de obediência, ela está determinada a seguir seu coração.

Desde quando a série "A Seleção", da Kiera Cass, surgiu aqui no Brasil que vejo um elevado número de elogios a autora e sua saga. Sempre quis ler para ter minha própria opinião, mas pelo fato de ser uma série sempre acabei adiando a leitura... Porém, quando foi anunciando o lançamento de "A Sereia", primeiro livro escrito por Cass e volume único, logo despertei minha vontade para conhecer o talento de escrita da autora.

É... Fui com sede, fui com tudo para me deixar mergulhar pelo mar, para que a história que ela tinha para me contar me envolvesse e me contagiasse... Só que acabei pulando no raso e me machucando. Certo, isto é só uma analogia para descrever que minhas expectativas com este livro não foram atendidas... Todavia, mostrou-me como devo me portar antes de ler outro livro da Kiera Cass.

Em "A Sereia", conhecemos Kahlen, uma jovem sereia que junto à outras duas lindas garotas têm a missão de alimentar a água por meio de seus cantos. Aqui, a água é uma entidade que se comunica com as meninas e se põe como soberanas a elas, mas ao mesmo tempo as ama grandemente. Cada garota carrega consigo uma história antes da transformação, isso mesmo, elas são transformadas e são escravizadas a viverem durante cem anos com este carma, depois podem voltar a viverem suas vidas normalmente. Mas, como tudo isso se desenvolve.... Só lendo para saber mesmo!

Vamos aos fatos... O protagonismo de Kahlen não é convincente! Ela é uma mocinha indecisa, dramática e quem tem medo de se arriscar, uma garota que se fechou no próprio mundo e inventou uma história para si mesma, para não aceitar a realidade em que vive. Como se não bastasse viver assim, Kahlen conhece um garoto, Akinli, e se apaixona torridamente. Claro, nada demais nisso... Só parece forçado demais que algo aconteça em tão pouco tempo.

Akinli é tímido, misterioso e o par perfeito para Kahlen, apesar de os personagens passarem mais imaturidade do que deveriam. Já, as irmãs sereias de Kahlen roubam a cena e para mim são as principais estrelas do livro, personagens bem construídas e de personalidade, com certeza, convidaria Miaka e Elizabeth para uma festa... Miaka é doce no estilo fascinante e Elizabeth, decidida e vivaz.

Narrado em primeira pessoa por nossa protagonista, peguei-me irritado muitas vezes, porque queria saber o que estava acontecendo com suas irmãs mais do que ficar lendo seus devaneios. Outro fator que acabou me incomodando bastante, foi que a mitologia das sereias apresentada no livro poderia ter sido melhor explorada, mas acabou ficando no superficial romance de Akinli e Kahlen.

Que Kiera Cass tem uma leitura fluída e clara, não se pode negar. A autora sabe como conquistar o leitor pela sua escrita, seu modo leve de conduzir a história deixa qualquer um a vontade, fazendo que o livro tenha sua leitura concluída em até mesmo um dia. Quem estiver procurando algo para se distrair é uma leitura recomendada, mas nada de grandes expectativas... Agora com o público infanto-juvenil pode ser um verdadeiro sucesso.

6 de abril de 2016

[Resenha] - Uma História de Solidão, de John Boyne

Autor (a): John Boyne
Ano: 2016
Editora: Companhia das Letras
Nº de Páginas: 416
Onde Comprar? Extra / Submarino

Primogênito de um lar disfuncional na Irlanda, o inocente Odran Yates vai estudar em um colégio que prepara garotos para a vida eclesiástica. Ao relatar sua jornada, da ingenuidade dos primeiros anos de colégio à descoberta dos segredos mais bem guardados da Igreja, Odran descreve uma Irlanda cheia de contradições e ódio por trás de uma fachada de bons costumes. Enquanto lida com as implicações de seu trabalho e o sofrimento das pessoas que ama, o padre Odran se convence de que era inocente demais para entender o que acontecia ao seu redor e tenta fazer um acerto de contas com a própria consciência.

Uma história de solidão traz um tema pesado em sua narrativa, um drama polêmico e espinhoso, uma história que causaria debates emblemáticos e conflituosos se levado a uma mesa redonda.

John Boyne nos apresenta em sua mais recente obra à Odran Yates, um padre irlandês, que teve a vida marcada por mágoas, sofrimentos, obediência e a castidade. Ele que ingressou nesta vida eclesiástica mais pela vontade da mãe do que pela vontade própria, mas que sempre se sentiu vocacionado começa a questionar esta vocação, a posição da Igreja Católica frente aos escândalos que a envolvem e a sua própria fé.

A narrativa que é mesclada por diferentes épocas do tempo e contada na primeira pessoa por Odran, retrata de forma bastante severa uma onda de abuso sexual à criança, praticadas por padres na década de 70. Um assunto pesado, cru e na qual Boyne, sem nenhum neologismo, escancara bem na frente do leitor.

Este é um livro dramático, não espere outra coisa além deste gênero, mesmo que muitas vezes ele faça um jogo de mistério. É como se fossemos o confidente de Odran, como se fosse seu psicanalista, na qual ele conta toda sua vida desde à meninice aos seus anos de idade já avançada. Odran é um homem frágil, condescendente, piedoso, pacífico e confuso. Mesmo ao destrinchar toda sua vida para nós, ele nunca encontrou sentido na sua vida, nunca viveu a felicidade plena. Esta inconstância no personagem, acabou fazendo que outros personagens se sobressaísse e cativasse mais o leitor. 

Talvez, cativar não seja a palavra mais correta, visto que o livro traz um tema forte. Mas, sem dúvidas, os outros personagens mostraram melhor sua faceta. É o caso de Padre Tom Cardle, melhor amigo de Pe. Yates, um personagem enigmático e transtornado que desde sempre soube que o sacerdócio não era para si e que vivia obrigado ali. Tom leva ao leitor despertar sentimentos intensos para si, levando-os à euforia.

Não abordarei aqui minha opinião religiosa, sou católico praticante e reprovo qualquer tipo de violência e abuso sexual, principalmente à crianças. Devem todos serem julgados e punidos. Posso dizer que Boyne foi ousado ao relatar tais acontecimentos em um livro, pois mexe com quem ler à um nível perturbador. Por estar escrito em primeira pessoa, acabamos tendo uma narrativa bem descritiva dos lugares onde Odran passava e das suas sensações. 

A capa deste livro representa muito bem determinado momento da vida de Odran, uma parte que anestesia o leitor de choque e foi esta, uma das partes mais marcantes para mim. No que diz à respeito da diagramação, foi feita de simples, tradicional e aconchegante. Alguns erros na revisão surgiram, mas nada que comprometa um bom desenvolvimento da leitura.

Uma história de solidão é um livro que não recomendaria a todos, não é um livro que presentearia a qualquer um. Trata-se de um livro para pessoas que mesmo em meio às emoções, consegue racionalizar. Um livro questionador e reflexivo, que poderia muito bem ter como pergunta final a seguinte: Quais são as consequências de nossas omissões ou de nosso silêncio? Um simples pronunciamento pela verdade e justiça poderia mudar os rumos dos fatos?