6 de abril de 2016

[Resenha] - Uma História de Solidão, de John Boyne

Autor (a): John Boyne
Ano: 2016
Editora: Companhia das Letras
Nº de Páginas: 416
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Primogênito de um lar disfuncional na Irlanda, o inocente Odran Yates vai estudar em um colégio que prepara garotos para a vida eclesiástica. Ao relatar sua jornada, da ingenuidade dos primeiros anos de colégio à descoberta dos segredos mais bem guardados da Igreja, Odran descreve uma Irlanda cheia de contradições e ódio por trás de uma fachada de bons costumes. Enquanto lida com as implicações de seu trabalho e o sofrimento das pessoas que ama, o padre Odran se convence de que era inocente demais para entender o que acontecia ao seu redor e tenta fazer um acerto de contas com a própria consciência.

Uma história de solidão traz um tema pesado em sua narrativa, um drama polêmico e espinhoso, uma história que causaria debates emblemáticos e conflituosos se levado a uma mesa redonda.

John Boyne nos apresenta em sua mais recente obra à Odran Yates, um padre irlandês, que teve a vida marcada por mágoas, sofrimentos, obediência e a castidade. Ele que ingressou nesta vida eclesiástica mais pela vontade da mãe do que pela vontade própria, mas que sempre se sentiu vocacionado começa a questionar esta vocação, a posição da Igreja Católica frente aos escândalos que a envolvem e a sua própria fé.

A narrativa que é mesclada por diferentes épocas do tempo e contada na primeira pessoa por Odran, retrata de forma bastante severa uma onda de abuso sexual à criança, praticadas por padres na década de 70. Um assunto pesado, cru e na qual Boyne, sem nenhum neologismo, escancara bem na frente do leitor.

Este é um livro dramático, não espere outra coisa além deste gênero, mesmo que muitas vezes ele faça um jogo de mistério. É como se fossemos o confidente de Odran, como se fosse seu psicanalista, na qual ele conta toda sua vida desde à meninice aos seus anos de idade já avançada. Odran é um homem frágil, condescendente, piedoso, pacífico e confuso. Mesmo ao destrinchar toda sua vida para nós, ele nunca encontrou sentido na sua vida, nunca viveu a felicidade plena. Esta inconstância no personagem, acabou fazendo que outros personagens se sobressaísse e cativasse mais o leitor. 

Talvez, cativar não seja a palavra mais correta, visto que o livro traz um tema forte. Mas, sem dúvidas, os outros personagens mostraram melhor sua faceta. É o caso de Padre Tom Cardle, melhor amigo de Pe. Yates, um personagem enigmático e transtornado que desde sempre soube que o sacerdócio não era para si e que vivia obrigado ali. Tom leva ao leitor despertar sentimentos intensos para si, levando-os à euforia.

Não abordarei aqui minha opinião religiosa, sou católico praticante e reprovo qualquer tipo de violência e abuso sexual, principalmente à crianças. Devem todos serem julgados e punidos. Posso dizer que Boyne foi ousado ao relatar tais acontecimentos em um livro, pois mexe com quem ler à um nível perturbador. Por estar escrito em primeira pessoa, acabamos tendo uma narrativa bem descritiva dos lugares onde Odran passava e das suas sensações. 

A capa deste livro representa muito bem determinado momento da vida de Odran, uma parte que anestesia o leitor de choque e foi esta, uma das partes mais marcantes para mim. No que diz à respeito da diagramação, foi feita de simples, tradicional e aconchegante. Alguns erros na revisão surgiram, mas nada que comprometa um bom desenvolvimento da leitura.

Uma história de solidão é um livro que não recomendaria a todos, não é um livro que presentearia a qualquer um. Trata-se de um livro para pessoas que mesmo em meio às emoções, consegue racionalizar. Um livro questionador e reflexivo, que poderia muito bem ter como pergunta final a seguinte: Quais são as consequências de nossas omissões ou de nosso silêncio? Um simples pronunciamento pela verdade e justiça poderia mudar os rumos dos fatos?

2 comentários:

  1. Realmente esse tema tem uma carga emocional bem pesada e o autor foi ousado ao escrever sobre isso. Quase um tabu, os abusos que o clero cometeu e que bem sabemos que existiu (e ainda existe) é um tema que as pessoas evitam comentar. Coisas assim são tristes demais e infelizmente estão presentes em nossa sociedade, seja em igrejas ou dentro de casa. O livro parece ser interessante. Gosto de livros assim, apesar de ultimamente estar fugindo de dramas. Colocarei o livro na minha listinha de "quero ler" para uma leitura futura.

    Minha Contracapa

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  2. Oi Lucas,
    Eis um tema que revolta muitas pessoas e deixa uma grande impacto em outras. Eu sempre penso que jamais devemos omitir uma injustiça, mas a questão é como revelá-la sem que você possa ser prejudicado. Para me entender melhor, deixo o exemplo de uma mulher que apanha do marido, se você denuncia e interfere pode sair por mentiroso e ter inimizades perigosas. Por isso creio que a saída seja sempre convencer a vítima a delatar, pois ela se tornaria forte. Esse assunto de abuso sexual é algo tão recorrente na atualidade que chega a ser espantoso. Eu sou católica não praticante, afinal acredito nas histórias e em Deus, mas não creio nos homens que comandam a igreja. Acho que tudo se perdeu e de desviou com o passar do tempo. Vou para de falar, porque o tema abordado no livro me deixou falante. Gostei muito da resenha e espero poder lê-lo em breve.

    Beijos...boas leituras.
    http://amagiareal.blogspot.com.br/

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